Quando Luiz Felipe Scolari assumiu a bancada para anunciar os convocados da Seleção Brasileira para os amistosos contra Itália e Rússia, terça-feira, ninguém fazia ideia de que Diego Costa estaria na lista. Mas na casa dos pais dele, no município de Lagarto, distante 76 quilômetros de Aracaju, havia uma suspeita de que ele seria chamado. No final de semana, Diego Costa ligou para a família dizendo ter recebido uma ligação do treinador gaúcho. (Veja entrevista com a família do jogador no vídeo)

- Felipão perguntou para ele se tinha interesse de defender o Brasil. Claro que ele disse que sim. Quem vai se negar a um chamado desse? É a realização de um sonho. Mas o Felipão não prometeu nada a ele, disse que estava apenas observando seu trabalho - conta dona Rosileide, mãe do jogador.

- Não tinha como ficar quieto. Mesmo sem a certeza de que seria convocado, comprei fogos de artifício e preparei uma grande festa. A cidade toda entrou no clima da comemoração. Há dois anos, ele passou as férias aqui e a TV fez uma matéria com ele. Na época eu disse na entrevista: 'vocês ainda vão vir fazer matéria da convocação dele para a Seleção. O sonho se realizou. Quase precisei de calmante para conter a euforia - disse emocionada Rosileide Costa.

A notícia chegou para Diego Costa na Espanha através do irmão Jair. É que o jogador do Atlético de Madri não confiou muito na profecia da mãe, e na hora da divulgação da lista, estava em casa brincando com a filha.

Como milhares de outras histórias de boleiros pelo Brasil. O sonho de se tornar jogador de futebol começou com o pai. José Dias Costa, o seu Zeinha, alimentava o desejo de ser um craque dos gramados. Logo desistiu e mudou de ramo. Mas investiu nos filhos. O primeiro, Jair Costa, apesar de habilidoso, preferiu não seguir o caminho. Coube a Diego realizar o sonho do pai.

Quando completou 9 anos, o pai colocou o garoto em uma escolinha. Aos 16, o autorizou para assinar com o Barcelona, de São Paulo. Na época, time da segunda divisão do Campeonato Paulista. Não ficou três meses no clube e foi levado para Portugal. De lá, seguiu para a Espanha, onde passou por Celta de Vigo e Valladolid, até chegar ao Atlético de Madrid.

Orgulhoso, o pai exalta o espírito guerreiro do filho em campo, que já foi chamado de argentino pelo técnico do clube espanhol.

- O Diego Simeone, que é argentino e treinador dele lá no Atlético, disse ao Diego um dia que ele nem parecia um jogador brasileiro. Ele parecia mesmo com um jogador argentino por causa da garra dele em campo. Mas ele sempre foi assim. Nunca gostou de perder e é muito dedicado - falou seu Zeinha.

- Ele não é desleal, mas não teme adversário. Faz parte do jogo dele. Na verdade, é mais uma resposta às provocações que sofre dentro de campo. Com seu estilo, chegou a Seleção, tendo concorrentes de peso como Fred, Luíz Fabiano, Pato e Leandro Damião. Mas ele é um bom menino - garante seu pai.

Irmão de Diego Costa, Jair não vingou como jogador profissional, mas, dizem, era mais talentoso do que ele. Dois anos mais velho que o novo atacante da Seleção Brasileira, ele conta que os dois não podiam jogar juntos. Unidos fora de campo, Jair e Diego não se 'bicam' nas quatro linhas. Tinham sempre que jogar em times diferentes para não sair briga.

- Eu era mais habilidoso, mas ele sempre brigava comigo. Dizia que eu era fominha e que prendia demais a bola. Ele é do tipo que odeia perder, principalmente sem ter tentado uns chutes ao gol. Assim, eu pagava o pato, ele vinha para me bater, mas aí ele se acalmava e a gente voltava a brincar - conta, aos risos, Jair Costa.

Com dificuldades em se firmar como jogador, Jair acabou abandonando a carreira como fez o pai. Mas Diego seguiu em frente com o sonho, percorrendo um caminho pouco convencional até chegar a um clube grande europeu e a vestir a amarelinha.

- Admiro muito meu irmão, pois ele fez um caminho que poucos conseguem fazer. A ordem natural é você se destacar em um grande clube do Brasil e ir para um grande da Europa, já conhecido. Ele fez diferente. Saiu do Brasil sem nunca ter jogado profissionalmente por uma equipe brasileira. Chegou a Espanha sem moral e poderia ser mais um reserva depois de vir de uma equipe menor. Mas ele foi titular do time, marcando gols e sendo decisivo, chegando à Seleção sem ser muito conhecido no seu próprio país. Por todas as angústias que ele passou tudo valeu a pena. Ele merece isso. O primeiro objetivo foi alcançado. Agora é trabalhar para defender o Brasil na Copa do Mundo - finalizou Jair.